Não,
ainda não caiu a ficha. Sim, tudo ainda parece um sonho mágico que eu não quero
acordar. O dia começou cedo no Dapuzzo,
e uma hora antes do jogo as arquibancadas já estavam completamente lotadas. Era
um sinal do que estava por vir. A festa da torcida fazia um barulho
espetacular. Mas era pra esconder o desespero de todos os corações. Era o dia
que podia mudar tudo, acabar com o sofrimento e, finalmente, dar a uma geração
inteira de torcedores o sonho de toda a sua caminhada.
Capitão Carlos Alberto.(Foto: Fábio Dutra)
Pra
esses, é impossível não lembrar da primeira vez no Aldo Dapuzzo. A minha, foi
no último Gauchão da série A que jogamos, uma derrota de virada contra o
Esportivo. Eu tinha 8 anos, e nunca me esqueço desse momento, e nas horas que
fiquei nas arquibancadas esperando começar o jogo eu só conseguia pensar da
trajetória de lá até aquele momento. Todas as decepções, todas as derrotas
incompreensíveis diante de um estádio lotado e a eterna linha do “ano que vem a
gente sobe” que era gritada por cada coração rubro-verde, em prantos, ao final
de mais uma decepção.
Mas
não nesse 19 de maio de 2013. O estádio, o jogo no Bento Freitas, o adversário,
tudo criava um cenário perfeito pra esse sonho se tornar verdade. Não podia ser
um simples acesso, depois de tanto tempo, tanta gente e tantos corações em
volta desse sonho. O destino queria testar o nosso amor um pouco mais, meu leão
do parque.
A
alivio que senti quando o jogo finalmente começou terminou no primeiro chute do
time de lá da ponte (não usarei o nome de tal aqui, não há espaço pra ele nesse
roteiro gigante), aos 2 minutos do primeiro tempo. Pouco depois o Aldo Dapuzzo
ficou por volta de um minuto em um silêncio ensurdecedor. Nenhuma das torcidas
cantavam, ninguém falava, mas todos os corações berravam de medo e expectativa.
Mas o gol do Aylon acabou com ele de vez. Provavelmente foi o gol que mais
comemorei na vida. A vantagem deles tinha acabado, e agora tudo era na nossa
casa, com a nossa torcida. Não, nesse 19 de maio de 2013 eu não falaria aquela
linha do ano que vem.
Torcida fez do Dapuzzo um CALDEIRÃO.(Foto:Pedro Duarte/Esportchê)
O
jogo amarrado, o grito da linda torcida rubro-verde me emocionavam. O jogo
pareceu voar. Cada falta, cada passo parecia um gol. Comemorado ou xingado como
se fosse o definidor do jogo. Talvez, eles tenham sido os definidores dessa
história. Do nosso sonho. Nos minutos finais do segundo tempo eu vi todo o
filme passar na minha frente. Na minha mente, eu já podia recuperar o
sentimento dos gols que mataram nossos sonhos nos últimos anos. Já via os
jogadores do time de lá comemorando o gol que destruiria nossos corações esse
ano. Quando o centro-avante deles chutou a chance mais clara do jogo por cima e
o juiz apitou o final, já chorando, eu pensei: não, não vai voltar a zica. Os
deuses do futebol já marcaram o 19 de maio de 2013 como o nosso dia.
Os
vinte minutos do apagão e dos celulares foram sofridos. Foram de um lindo sofrimento.
Desculpem os filhos do futebol de arenas, mas eu ainda sou meio romântico em
relação ao futebol. Eu sei, todo rubro-verde no sabe, que o apagão só melhorou
a conquista. Daqui uns anos, sentados com os nossos netos na volta, esse
detalhe vai ser provavelmente o mais lúdico de nossas palavras. Eles não vão
nem suspeitar da magia do Aldo Dapuzzo, da nossa casa, escuro, apenas com as
luzes do coração rubro-verde em pleno 19 de maio de 2013.
Herói Luciano. (Foto: Ricardo Duarte/Agência RBS)
Dos
pênaltis, eu só posso pedir desculpa pro Luciano. Desculpa se algum dia eu
desconfiei de ti. Desculpa se algum dia um torcedor do São Paulo te chamou de
velho ou baixinho. Desculpa Luciano. Tu é o maior e mais brilhante jogador que
eu já vi usando a camisa do Leão. Desculpa se eu não tenho como fazer a estátua
que tu merece na entrada do Aldo Dapuzzo. E obrigado Carlão. Obrigado por
anular o anão arrogante do time de lá. Obrigado por assustar ele. Obrigado por
errar aquele pênalti. Ele só deixou a história mais espetacular. Tu, no coração
dos românticos do futebol, só aumentou a nossa festa.
Antes
da cobrança do Caio meu coração já não aguentava mais. Tinha certeza que ele
erraria, que a zica voltaria, e eles virariam nas alternadas. Já me via indo
embora, carregado por uma massa desolada de novo e falando “ah, mas tem o
segundo turno ainda” enquanto chorava por dentro. Mas não. Era o 19 de maio de
2013, o dia mais feliz de nossas vidas.
A
festa na chuva, o apagão, o lado do adversário, os pênaltis, a ironia por trás
do nosso herói e o galho de arruda atrás da orelha dele fazem essa da história
que nunca vamos esquecer. Obrigado aos jogadores e comissão técnica por fazerem
isso possível. Obrigado Aylon pelos teus 7 gols nessa campanha, e por fazer o
mais comemorado dos meus dias. Obrigado por existir, 19 de maio de 2013.
Obrigado Sport Club São Paulo por me fazer te amar e me preparar pra viver isso
tudo.
Texto: Gabriel Bresque
Parabéns Gabriel, este foi o mais fiel relato do sentimento de toda nação rubro-verde. Conseguiste reproduzir em palavras o que é amor de Rubro -verde e a importância em 19 de maio em nossas vidas.
ResponderExcluirObrigado
Déborah Figueiredo